quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Até que a mentira os separe, amém.

"...If I give my heart to you
I've must be sure
From the very start
That you would love me more than her..."
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A única imagem que permanecia na mente daquele escritor era a de uma menina de tranças ruivas e sardas adoráveis... Ela ia e vinha no balanço pendurado na árvore do jardim.
Calejados, os dedos dele teimavam em continuar a caminhada pelas teclas da máquina de escrever. A mão clamava por amassar a próxima folha; e conseguia.
Ele não tinha mais idéias. A menina sorria para ele naquela lembrança... Ele sorria de volta e chorava por não tê-la mais por perto.
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"Papai, vem me balançar..." Dizia a voz da criança mais doce que ele já vira. Empurrava o balanço com tanto prazer; sabia que ia ouvir a gargalhada mais linda que já ouvira.
A mulher dele, que costumava ser igualmente charmosa, vivia agora nervosa, cansada, triste. Encarava-o com um olhar terrivelmente abatido, contornado por uma mancha escura. Mostrava as noites que passara acordada.
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"Amor, tenho que dizer uma coisa que a muito tempo anda me corroendo por dentro... Não consigo viver mais com isso..." A mulher falava, cabisbaixa, depressiva.
Se entreolharam. O segredo que ela havia escondido por tanto tempo atravessou o coração dele como uma faca afiada, enfiada até o fim.
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Ele arrumou os seus pertences.
Antes de partir, deu um último beijo nas sardas da criança que ele achava até pouco tempo ser fruto do seu sangue.

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