sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Gosto de quê?

Escorria atenção daqueles ouvidos cheios de cáries sonoras. Queria ouvir o que o rádio ao lado da poltrona dizia em meio aos tilintares selvagens de copos sendo lavados na cozinha. Perdeu a paciência. Gritou sem resposta. Desligou o rádio e resolveu se deitar.
No teto do quarto estava colada a retina, violada pela rotina amarga de versos tristes e repetitivos.
Não queria e não sabia mais provar daquele apego aprendiz que fora instigado pela mulher da beira da praia, cujo vestido dançava no ritmo das ondas salgadas. Casou-se com ela.
Agora o café tem gosto de noite mal dormida. O almoço, de manhãs caladas. A janta nem tem mais gosto. A não ser que sejam acrescentadas duas gotas de limão, e só.
Ia-se azedando tudo ao redor.
Era cego de amor. Agora surdo de velhice. Essa que veio faceira e se apossou de seus poucos anos.
A mulher o deixou pra voltar àquela praia que guarda um passado mais atraente.
Ele viveu o resto só. Morreu desgostoso da vida, sem nenhuma mulher para amar.

2 comentários:

  1. Sabe o que é melhor? Adoro essas doses de urbanismo que você pita nos seus textos, fica bacana. E outra, é tão fluente que dá pra se imaginar na mesma situação que quando vc buscou pra escrever.
    Ficou foda cara, o meu apoio você terá sempre! =)

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  2. parabens
    blog tah otimo
    e tu escreve bem pra caramba
    XD

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