O pé de pitomba. E lá ia ela com seu único livrinho debaixo do braço, correndo para aproveitar a sombra da árvore e ver de lá o sol se por dali a poucos minutos.
Enquanto ele fazia hora para ir embora, os olhos dela percorriam as páginas chamativas, com ilustrações que, segundo os pensamentos dela, não tinham nada a ver com a história.
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A sombra ia ficando maior e o dia mais laranja. O mato ao redor ia brilhando e escurencendo o verde ao mesmo tempo. Ela marcou a página, largou o livro no chão e foi subir no pé de pitomba. É que a vista era mais bonita dali de cima e as maritacas iriam lhe fazer companhia. Amigas de longos anos vividos naquela roça.
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O sol se pôs, sem muito segredo e repleto de magia. Diferente a cada dia conseguia ainda encantar a menina, que não deixava de pensar um dia sequer "como pode ser a mesma coisa e ser diferente sempre?"...
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A luz elétrica só existia a quilômetros dali. Ela se guiava pela luz da candeia que dava para ver pela janela da cozinha de casa. Era perto do pé de pitomba e a lua naquele dia, de tão grande e cheia, também iluminava a graminha e ela seguia...
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O cheiro era conhecido. Frango caipira. "Que bom, mamãe está fazendo o que eu mais gosto. Papai deve estar chegando hoje, só pode". O pensamento guiado pelo arroz e feijão de todos os dias, sem mais nada além de um copo d'água do pote de barro para acompanhar. Ela era tão feliz nesses dias de frango caipira na panela.
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"Papai, papai... Sabia que o senhor viria hoje! Adivinha o que mamãe está fazendo?". O beijo na testa e o respeito compartilhado naquela família pequena. Cavalos. Latidos de cachorros na porta de entrada...
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Na mesma casa, secou a lágrima a menina. A bacia cheia de pitombas na pia da cozinha. Ela cozinhava seu frango caipira, agora de todos os dias, com seu único filho de 8 anos e única companhia. O passado vinha visitá-la na memória quase sempre. Depois que os pais morreram juntos, sorrindo, na cama do casal. Completava 42 anos no outro dia e ainda guardava o livro para ler enquando seu menino pegava no sono.
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